
Existe uma trend entre os corredores na qual um aniversariante se propõe a festejar a data percorrendo em quilômetros o mesmo número de anos completados. Os 42 anos são simbólicos já que a maratona tem 42,195 km. Fabienne Guttin Yeros levou a tendência às aguas abertas e subiu, e muito, o sarrafo.
Daqui exatamente um ano, ao completar 70, a atleta master inicia uma jornada de uma semana seguida nadando 10 km por dia no litoral norte de São Paulo. O plano de Fabienne não é “somente” completar os 70 km nadando, ou uma maratona aquática por dia. É muito mais do que isso.

O projeto “70 em 7” prevê o monitoramento das alterações fisiológicas e funcionais durante o treinamento para cumprir o desafio proposto. Para isso, ela está se submetendo a testes e exames periódicos no Instituto Vita, de Campinas (SP), onde mora e treina. Os dados devem ser divulgados, consolidados, no final do projeto. Além disso, o cinematografista Lucas Gaspar Pupo, especialista em filmagens subaquáticas, planeja um documentário, acompanhando a evolução dos treinos e o desafio em maio de 2025.
Masters como elenco do projeto
Este recorte do projeto deve preencher uma lacuna percebida por Fabienne: a falta de dados e artigos acadêmicos sobre o atleta master. “Infelizmente, somos invisíveis para sociedade”, afirma Fabienne. “É um paradigma que precisa ser mudado. Este conceito de velhice, do idoso que não serve para nada e é frágil, mas é muito difícil descontruir esta imagem de juventude e beleza.”
Fabienne afirma que os masters são o elenco do projeto e, para não ficar só no discurso, disponibiliza semanalmente um treino elaborado pelo especialista em águas abertas Samir Barel. Quem quiser executa e depois pode contar suas impressões que ela divulga em suas redes sociais. Fabienne prevê 5 treinos semanais com média de 4.000 metros por dia e fez alguns cálculos interessantes: como treina em uma piscina de 25 metros, serão mais de 50 mil viradas.

Uma atleta master que aderiu ao “70 em 7” foi a médica Fernanda Braga Benatti. “Conheci o projeto antes de começar. É animal. Uma mulher da idade dela se submeter a um treinamento para conhecer os efeitos provocados é muito legal”, afirma Fernanda, que também é orientada por Samir Barel. “Então alguns treinos são parecidos, o que acaba facilitando”, completa ela, que nada 4 vezes na semana, média de 4.000 metros por dia.
Tirar as pessoas do sofá
Ao disponibilizar um treino por semana, um dos objetivos de Fabienne é promover a prática de atividade física. “Estudos no exterior mostram que grandes eventos, como os Jogos Olímpicos, não conseguem tirar as pessoas do sofá”, afirma. “A pessoa pode começar a fazer o esporte em qualquer idade, sem pensar que é tarde para adquirir benefícios. Eu vejo necessidade profunda de a sociedade conhecer o que é atleta master.”
O projeto inicial de Fabienne era ainda mais ambicioso: acompanhar três mulheres com a mesma idade, uma que sempre foi esportista, uma que iniciou tardiamente e uma sedentária. “A curva de resultado iria mostrar o fosso que existe ou que vai existir em um ano”, afirma ela, acrescentando que é preciso mudar o conceito de doença/tratamento para saúde/prevenção. “O único jeito de envelhecer bem é praticando esporte.”
Como nadar devagar?
Na preparação para seu desafio daqui um ano, Fabienne diz ter três grandes preocupações: nadar devagar, a recuperação e as alterações fisiológicas que o tempo na água salgada pode causar.
“Nadar devagar é muito complicado”, afirma ela, que precisa treinar em um ritmo determinado. “Sou velocista e até o equilíbrio fica comprometido dentro da água”, conta ela que no ranking da ABMN (Associação Brasileira de Masters de Natação) de 2023 aparece em primeiro lugar na categoria 65+ nos 100 m, 400 m e 800 m livre e 100 m medley.
A recuperação está muito ligada ao aspecto nutricional. “O meu estômago não digere da mesma maneira de um garotão de 40 anos”, afirma. “Essa parte é muito importante porque quero fazer uma coisa prazerosa.”
A terceira preocupação de Fabienne é um pouco mais inusitada. “Com muito tempo no mar, a língua incha e a boca fica cheia de aftas”, conta ela, que diz ter encontrado poucas informações sobre o assunto. “Pode notar que ultramaratonistas após sair da água estão inchados.”
Fabienne estuda algumas alternativas. O uso de laser em pontos específicos da língua, opção dada por uma amiga médica, o bochecho com óleo de coco e o uso do produto nos lábios após sair da água.

Com uma vida ligada ao esporte, como pesca submarina, esqui aquático, vela, remo, tiro esportivo, bicicleta, frescobol, atletismo, natação e windsurf, Fabienne tem uma autodefinição.
“Sempre fui uma corredora nata: atrás de sonhos, conhecimentos, desafios, novidades, experiências, aventuras e até mesmo da rotina que me dá satisfação, ganho de tempo e tranquilidade”, escreveu Fabienne em um texto que celebra seus 69 anos.
Parabéns pelo aniversário hoje!! E estou de perto acompanhando sua trajetória! O processo será incrível! Que bom que estou seguindo essa determinação 👏👏👏💜
Adoro ler seus textos, Fabi! Linguagem de fácil compreensão e o seu projeto será um estudo importante para o nosso envelhecimento sem MEDICAÇÃO com mais AÇÃO! PARABÉNS pelo seu novo ciclo!👏👏💪💪
Obrigada Lúcia! Vamos dar visibilidade aos Masters!
Atleta incrível e inspiradora ! Fernando parabéns pelo texto ! Que esse seja o começo pra muitos que aqui vão se inspirar !
Muito obrigado por sua contribuição na reportagem, Fernanda. E que muitos se inspirem nessas histórias incríveis!
Querida Fer, vc é uma daquelas pessoas anjo! Nem sei como agradecer seu imenso apoio, carinho, atenção… espero vc em um dos dias do Desafio. Ficarei tão feliz! Bjs grandes !
Fabienne é excepcional sou fã incondicional dela ela consegue fazer velocidade e fundo ao mesmo tempo isso é incrivel
Olá, Adib. Obrigado pela mensagem. Conversei um pouco com a Fabienne sobre isso. O técnico dela, Samir Barel, também comentou sobre essa versatilidade em outra matéria. Clique aqui para ler.