Por que torci tanto pela Vivi Jungblut

Viviane Jungblunt conseguiu nesta sexta-feira um excelente resultado na Itália. No último grande evento reunindo a elite da maratona aquática antes dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, a nadadora gaúcha terminou os 10 km apenas 1s30 atrás da compatriota Ana Marcela Cunha para conquistar a medalha de prata na segunda etapa da Copa do Mundo de águas abertas, em Golfo Aranci, na Sardenha.

No sprint final, ela conseguiu ir atrás da atual campeã olímpica da prova e superou a alemã Leoni Beck, campeã nos 5 km e nos 10 km no Mundial de Fukuoka-2023, e a holandesa Sharon van Rouwendaal, campeã olímpica no Rio-2016 e vice em Tóquio-2020. A vantagem da brasileira após 10 km e mais de 2 horas horas nadando foi de apenas 20 centésimos sobre a alemã e 30 centésimos sobre a holandesa.

Vibrei muito com a vitória de Ana Marcela Cunha, a primeira em uma etapa de Copa do Mundo desde julho de 2022, em Paris, mas acho que torci mais pela Viviane Jungblut, a Vivi, que nem chegou a ser citada no texto de apresentação da prova publicado pela World Aquatics.

Tive contato com a atleta de 27 anos apenas uma vez. Em setembro de 2023, a TH5, que organiza um circuito de provas em águas abertas em Bertioga (SP), promoveu um evento em homenagem a Mirco Cevales, um dos mais respeitados técnicos brasileiros.

‘Viu quem está aí?’

A homenagem foi uma sugestão de Paulo Barbieri, o Tula, e foi rapidamente encampada por admiradores do Mircão. Rodrigo Zevzikovas, o Z, começou a produzir vídeos com depoimentos de pessoas ligadas ao técnico. Nomes de peso, como os olímpicos João Gomes Júnior e Larissa Oliveira e o técnico Alexandre Pussieldi, entre outros, foram ouvidos. Vivi não estava na lista. “Não sabia que ela tinha treinado com o Mircão”, disse Z.

Na manhã do dia 3 de setembro, no Canto do Indaiá, uma atleta vestindo uniforme do Grêmio Náutico União, clube de Porto Alegre, surgiu sem alarde. “Você viu quem está aí?”, questionou, admirado, Z, que depois trocou informações sobre treinamento com a atleta, que vai para sua segunda Olimpíada. Em Tóquio-2020, ela nadou os 800 m e 1.500 m livre.

“Ela é fora da curva. Foi para fazer uma surpresa”, afirmou Mirco. A demonstração de respeito e carinho pelos três anos e meio de trabalho com o técnico não ficou restrita à presença no evento. Vivi caiu na água e completou a prova longa, de 2.400 m. “Ela nadou, mas não competiu. E mesmo ‘rodando de boas’ deixou todo mundo para trás”, afirmou Ana Licia Sudo, campeã da prova.

Logicamente Vivi não entrou na classificação, mas participou da cerimônia de premiação. “Falei com ela brevemente depois, quando tiramos foto juntas”, afirmou Ana. “Eu a achei bem simpática. Tirou fotos com a galera e foi agradável com todos.”

Se cada um fizer a sua parte

Inicialmente, a nadadora do GNU entregaria os troféus somente da classificação geral da prova longa feminina, mas as premiações das diversas categorias foram se sucedendo e Vivi continuou ali cumprindo a função. Em nenhum momento exibiu uma expressão de enfadonho. Estava sorridente e parabenizava quem subia ao pódio.

A situação só não se prolongou ainda mais porque Mirco teve a sensibilidade de pedir à organização a liberação da atleta. Antes de ir embora, Vivi ainda conversou animadamente com alguns amigos do técnico, felizes com a presença dela.

No início do mês, com a caótica situação do Rio Grande do Sul, a nadadora decidiu não disputar a seletiva olímpica de natação no Rio de Janeiro para ajudar as vítimas das enchentes em seu Estado. “Se cada um fizer sua parte e colaborar como pode, ajudar como pode, com certeza a gente vai ajudar a cidade e o Estado a se reconstruir”, afirmou Vivi, que atuou como voluntária, ao Jornal Nacional.