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Ricardo Augusto Oliveira se classifica como “um nadador não tão qualificado” e diz que a natação é a sua cachaça. Diariamente, precisa vencer uma batalha para levantar da cama às 6h e ir nadar, seja no frio ou debaixo de chuva. Treina em uma piscina de um condomínio ou no mar da praia de Camburi, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. A companhia, invariavelmente, é o “best friend” e arquirrival, Tomás Guidotti. A dupla não segue a orientação de um técnico.

“A nossa meta é quase morrer de cansaço”, conta Ricardo, que diz não haver uma preocupação grande com a técnica. “Às vezes, damos um toque para o outro, mas como os dois nadam por lazer não há muito o que fazer”, completa ele, que faz questão de ressaltar a generosidade do amigo. “Ele me acompanhou em todos os projetos e foram mais de 15 longas distâncias acima de 10 horas. É duro ficar no caiaque ou no barco. E não é só isso. Se a pessoa vai te ajudar, mas não está muito a fim, acaba atrapalhando.”

Mostrar dois amigos
Ricardo (esq.) e o arquirrival Tomás Guidotti

Criador da Rota 55, que pretende transformar a rodovia Rio-Santos em uma marca capaz de atrair turistas de outros Estados e países em busca de experiências e não somente das praias, Ricardo usa a natação em águas abertas como uma ferramenta para agitar o litoral norte de São Paulo.

Nadar para curtir

Criou no final do ano passado o Clube dos Nadadores, que oferece aos sócios eventos, a preço de custo, de caráter não competitivo pelas ilhas e praias da Rota 55 ao longo do ano. Os nadadores se reúnem em um local e partem com apoio de caiaques e barco. Roupa, nadadeira e palmar são liberados, e a organização oferece boia de segurança de uso obrigatório. A próxima perna, de 3 km, será de Juquehy até a Barra do Sahy, no dia 26 de maio. Outros eventos são a Volta a Nado de Alcatrazes, de 7km, a volta de 5 km na Ilha do Montão de Trigo, com almoço caiçara incluído, e a Fuga ao Luar, no mesmo fim de semana da Fuga das Ilhas, com um percurso noturno.

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Logo do Clube dos Nadadores

O Rally Rota 55 foi formatado como uma disputa entre equipes prevista para durar dez semanas na piscina em que o grupo inscrito treina habitualmente. “Eu sou um atormentado (risos), e a natação é a minha cachaça”, afirmou Ricardo. “Sei o quanto faz bem para mim e para os outros, e as ideias e eventos vão surgindo. Sou um comerciante inquieto. Acho que é a melhor tradução.”

Natação e literatura

O comerciante, dono de uma pousada e restaurante em Camburi, além da marca Rota 55 que inclui cerveja, cachaça e eventos de beach tennis, usa sua lista de contatos para fortalecer projetos. Seu grupo de WhatsApp específico para águas abertas conta com cerca de 900 nadadores. Ricardo fez uma parceria com a nadadora/escritora  Ana Mesquita, na qual a compra do livro A Travessura do Canal da Mancha dava direito a uma perna das 10 praias do Clube dos Nadadores. Repetiu o formato com José Ferreira, recordista da travessia Leme-Pontal-Leme, e a pré-venda do livro Além do Mar.

“Eventualmente, compro alguns livros (com desconto de autora) e revendo diretamente”, afirma Ana Mesquita. “Nessa modalidade digo com certeza: vendi muitos livros no grupo Rota 55. Acho que, desde o ano passado, cerca de 100 exemplares. Se você tem ideia da dificuldade que é vender livro no Brasil, um país de poucos leitores, vai concordar que é bastante”, completa a nadadora/escritora.

Mostrar evento aquático
Fraccaro participa de evento de Ricardo

O nadador Marcos Fraccaro, que se prepara para atravessar o Canal da Mancha em agosto, também se beneficiou da ajuda de Ricardo para divulgar os produtos que lançou para custear a aventura. “O Ricardo é gente boa demais”, afirmou Fraccaro. “Ajudou na divulgação e estimulou os participantes do grupo a adquirir meus kits e me ajudou na venda das rifas. O Ricardo é um grande entusiasta da modalidade”, completou.

Nem sempre a cachaça de Ricardo foi a natação. Até os 43 anos, ele era surfista, com as ondas mais conhecidas do mundo no currículo. Morou em points famosos para a prática do surfe como Bali e Havaí e viajou para mais de 30 países atrás de ondas. É claro que ele sabia nadar, mas Ricardo nunca havia entrado em uma piscina para a prática sistemática do esporte.

Sensação de super-homem

“Em 2007, morei no Havaí e quando voltei ao Brasil não consegui surfar, seja pela qualidade das ondas ou pelas condições climáticas. Fiquei dois anos sem surfar”, conta Ricardo, cujo jejum foi quebrado com uma viagem a Fiji, no Pacífico sul.

“Foram 37 dias, surfando todos os dias. Quando estávamos voltando, nosso barco quebrou. Decidi ir nadando até terra firme”, contou o ex-surfista. “Demorei um bom tempo nadando, rebocando minha prancha amarrada ao tornozelo caso precisasse descansar. Não sei precisar quanto, mas depois de um bom tempo quando olhei para trás não via mais o barco. Ao chegar em terra, caminhei bastante até encontrar um vilarejo e com muito custo consegui ajuda dos locais e fomos procurar o barco”, completou ele, acrescentando que o reencontro com os tripulantes aconteceu 7 horas depois de ter deixado a embarcação. “Percebi que tinha tomado a decisão certa e me senti um super-homem.”

Mostrar a 14 Bis
Ricardo participa da tradicional 14 Bis

 

De volta ao Brasil, passou a se aventurar nas ilhas próximas à costa, como a dos Gatos e a Montão de Trigo, e em menos de um ano concluiu a tradicional 14 Bis, prova de 24 km. “Daí me falaram para nadar até Alcatrazes. A ignorância é uma bênção. Eu falei: ‘Então eu vou'”, contou Ricardo, que cumpriu o percurso Camburi-Alcatrazes pela primeira vez em 2016 e repetiu a dose em 2017 e 2018 em cerca de 15h30. “Desde então já levei mais de 300 pessoas para nadar em Alcatrazes.”

Mostrar Alcatrazes
Alcatrazes na travessia de Ricardo de 2018

“Meu plano é ter sócios que gostem de desafios no Clube de Nadadores e poder explorar todos os cantos deste nosso litoral com custo viável para todos”, afirmou Ricardo.

13 comentários

  1. Totalmente identificada: sou também uma pessoa atormentada e, embora prefira dizer que a natação me faz viver, bem poderia dizer que é a minha cachaça…

  2. Que bacana esta matéria, que reúne informações deste empreendedor/nadador/ex-surfista/marketeiro que tanto curte nadar e reunir nadadores. Parabéns ao autor e ao Ricardo.

  3. Ricardo…e a história de Ilha Comprida ? Se bem me lembro vc começou a nadar sem destino, se perdeu e acabou nadando uns 14km… foi isso? 😄😄💪💪

  4. Matéria iradaa! Feu, PARABÉNS!

    Muito bacana essa história.
    Além de ser inspiradora, a interação do esporte com a leitura foi a cereja do bolo.

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